terça-feira, dezembro 28, 2010

Não abandonaria meu bloguxo por nada!

Bloguxo querido, voltei!
Estamos na reta final de 2010 e tudo o que posso dizer é que mais uma vez venci! Passei na seleção do Mestrado em Cultura e Turismo com a melhor nota na prova escrita  de conhecimentos específicos (e serei orientanda do meu "amado-professor-antropólogo"); minha pele está um "pêssego" (ok, pode ficar melhor); meus cabelos estão muito sedosos (sim, sedosos e brilhantes); e apesar de ter me descuidado um pouco da alimentação e quase ter "embarangado", eu continuo charmosa e saudável (e conservando a minha sanidade, pelo menos o suficiente)! 
Muito bom, mais uma vez, chegar ao fim de um ano com a sensação de "dever cumprido," com "vontade de quero mais" e de apostar no futuro as melhores cartas, superando sempre todos os  obstáculos e imprevistos. 
Bom, fico por aqui prometendo te dar mais atenção!

Obrigada por existir e ser testemunha da minha história,
BJUXXX



Ps: Muitos planos para 2011!!!

sábado, setembro 18, 2010

Com todo o respeito: você gosta do que balança?








Eu gosto é do que balança!!!                     

Estar nas alturas é bom e,
me dá um friozinho na barriga!
Azulzinho feito o amor, me faz tirar os pés do chão.
Fico com a cabeça nas nuvens, vou pra lá do mundo da lua.
Mas lá não dá pra balançar,
e nem fazer vai e vem,
e nem pode "rolar" um "rala e rola"!
Eu gosto do que balança,
principalmente quando eu fico molhadinha!
Molhadinha, no molhadinho, eu também sinto friozinho na barriga.
E pode fazer vai e vem,
e pode fazer vem e vai, 
e pode balançar bastante que eu não enjoo!
Hei, companheiro! Vem pro balanço do mar!
Vem depressa! Vem depressa, vem!
É tão gosotoso.... Vamos dançar sobre o mar?
Érrrr.... você aceita andar comigo sobre as ondas do mar?


 


quinta-feira, setembro 16, 2010

Um drama drena




Ps: será que eu sou fã da Luisa?  Será que eu adoro vídeos? Será, será, Meu Deus, será?! O que será que será, seja lá o que quer seja, será! Será mesmo? Ser ou não ser? Serei eu propriamente sereia? Serei eu ulguém que é o ser que é porque está sendo um ser? Sendo eu quem  sou, será que eu sei ser outro alguém que eu sei que eu não sou? Será que se  o meu ser for outro alguém, eu reconhecerei novamente quem quer que eu seja? Eu amooooo Luisa, bjuxxx!

Une pause pour un..... deux, trois, quatre, cinq, six et



O mar vai e vem, o mar vem e vai. O mar leva e traz, balança que balança, e me distrai. Eu gosto de ver o mar e me balanço com o seu balançar. É no balanço do mar que eu vou, é no vai e vem que ele vai me levar. Eu vou, eu venho, eu balanço e eu te trago, porque eu gosto do balanço do mar!


Uma pausa para um..... dois, três, quatro, cinco, seis e vai....

Olá, bloguxo! Como estou com saudades de contar sobre o meu cotiano, meus segredos mais rasos e sobre como subverto a realidade.
Sabe, adquiri mais uma certeza nesta longa e misteriosa caminhada que é viver: A VIDA É DOCE! Eu posso até ser um pouco amarga, mas a vida é muuuuito doce... pelo menos a minha o é, eu acho.
Se eu pudesse ser um (outro) bicho eu gostaria de ser uma borboleta ou um unicórnio, talvez uma estrela-do-mar. Mas se eu tivesse que escolher um bicho levando em conta os meus hábitos eu seria uma abelha, operária, claro. Ok, acho que poderia ser uma formiga, mas dizem que se uma formiga passar por cima de um alimento vc não deve comer, antes comer aquele pelo qual passou uma barata, porque as formiguinhas transmitem muitas doenças. Há controvérsias, mas eu continuo com a abelha.
Você já deve ter "sacado" o que quero dizer, não é? Eu sou louca por doces. Quando eu era uma meninota, vixe, eu comia até açucar puro, alíás era o que eu comia basicamente. Chocolate então, eu era capaz de vender o meu Snif snif por um bom bombom! Já na adolescência, como eu era obcecada com o meu peso e tinha força de vontade, eu evitava comer doces, salgados, azedos, amargos, enfim.
Agora que sou uma mulher madura, amadurecida, encalhada e careta, não me resta mais nada a não ser comer, principalmente doces.
Ultimamente tenho estado ansiosa com o futuro, meus projetos, principalmente o de ingressar como aluna regular no Mestrado, no qual me inscrevo para seleção amanhã, e também com otras cositas más...

BJUXXX  


segunda-feira, agosto 02, 2010

Toh passando soh pra dizer q estou viva, (vivíssima!!!), com muiiiiita xodade e, pra justificar a minha ausência... um dos motivos, logo abaixo:


A cibercultura e o mito da transcendência: redes de comunicação e a interface entre o homem e as suas tecnologias [1]


RESUMO

         Este trabalho pretende discutir acerca das transformações que ocorrem no modo de ser e estar no mundo na era digital, sob uma perspectiva crítica e culturalista. Com apoio nas Teorias da Comunicação, estudos em Tecnologia & Informação e Cultura Contemporânea, serão estudados o imperativo tecnológico, a interface decorrente e a esperança de transcendência depositada em técnicas e tecnologias. Cultuadas, as novas tecnologias atuam na construção do imaginário contemporâneo, figuram como estruturante central da cultura, e produzem efeitos que repercutem no cotidiano do homem pós-moderno que vive em simbiose com o artificial. Na contemporaneidade, a capacidade do homem em interagir com estas tecnologias é um pressuposto para a sua informação, comunicação, para a execução de determinadas atividades laborativas, para o seu avanço e inclusão na sociedade.  Partindo destas premissas, este artigo busca apontar caminhos para a reflexão sobre as transformações socioculturais que ocorrem diante de uma ideologia que beira o totalitarismo onde as tecnologias são pressupostos de poder, cidadania e felicidade.

PALAVRAS-CHAVE: Cibercultura; Interface; e Transcendência.


Introdução
                       
                           Foi na Modernidade, quando instituída a tecnocultura/tecnocracia, que a técnica passou a ser entendida como razão científica. O pensamento tecnológico em sua forma mais avançada, a cibernética, baseia-se em estudos que estabelecem que certas funções de controle e de processamento de informações são equivalentes entre máquinas e seres humanos.
            Da convergência entre a cibernética e a telemática, a cibercultura cria relações inusitadas entre as tecnologias da informação, a comunicação e o homem pós-moderno. No ciberespaço são permitidas novas experiências sensoriais numa conexão generalizada.
         O imperativo tecnológico encontra apoio na tecnoutopia de que o avanço tecnocientífico pode ser um caminho para o fim de todas as contradições do mundo, sejam elas de ordem social, política, econômica ou natural. Através da interface entre o ser humano com sistemas artificiais, e na possibilidade da criação de sistemas autônomos que possam substituir o homem, o imaginário contemporâneo reivindica uma nova realidade, sustenta a ideia de que um novo mundo pode ser construído através de bites e bytes. O pensamento cibernético defende a superação da condição meramente humana, colocando a artificialidade do mundo como forma de sobrevivência. Nesta perspectiva, a tecnologia é cultuada e toma para si a faculdade de libertar o homem de suas limitações, embora ainda não seja prevista a democratização efetiva dos benefícios da era digital.
            Para realizar este estudo foi escolhido o tipo de pesquisa teórica, através da consulta a livros, artigos e dissertações, com apoio nas Teorias da Comunicação e estudos em Tecnologia & Informação e Cultura Contemporânea. Através de uma revisão de literatura, pretende-se analisar e discutir sob uma perspectiva crítica e culturalista a construção do imaginário através das tecnologias digitais, o pós-orgânico e a sociedade que se forma no contexto da cibercultura. 
             Partimos do pressuposto de que a produção tecnocientífica contemporânea persegue a artificialidade como forma de aprimoramento do homem e das suas relações sociais, e que na cibercultura a comunicação e a inclusão social dependem da interface entre o homem e as novas tecnologias.
            Consideramos a pesquisa com interesse para estudos em: História e Filosofia das Ciências e da Tecnologia, Tecnologia & Informação, Antropologia e Cultura Contemporânea, Comunicação Social e Sociologia.

O "império" das tecnologias do imaginário

         A existência do homem está submetida a sua “realidade imaginal”, não havendo vida simbólica sem imaginário. É através do imaginário que o ser humano representa a sua realidade, distorcendo-a, idealizando-a e formatando-a simbolicamente através de sua imaginação. O imaginário, como uma “bacia semântica”, não se restringe a um conjunto de imagens, é na verdade uma língua da qual cada indivíduo participa através de sua compreensão e aceitação de suas regras, podendo alterá-lo pelo fato de ser também um ator social (SILVA, 2006, pp. 07-09).
         As “tecnologias do imaginário” induzem as representações culturais que imaginam o pensamento tecnológico, interferem na produção de mitos, visões de mundo e de estilos de vida. Com a capacidade de difundir imaginários, estas tecnologias são classificadas como o principal mecanismo de produção simbólica na atualidade. O computador e as demais tecnologias da comunicação e informação criam um conjunto de representações que correspondem ao “imaginário tecnológico”, fundamentado na tecnoutopia de que através da ciência é possível transcender as limitações humanas (FELINTO, 2005, pp. 92-93; SILVA, 2006, pp. 14-22).
           No atual contexto histórico, a comunicação se utiliza ao máximo de tecnologias que possam permitir e assegurar o seu movimento. O “imperativo tecnológico” refere-se à participação das novas tecnologias na construção da realidade contemporânea e na difusão das fantasias do imaginário, servindo de referência na produção e retransmissão da comunicação   (SFEZ, 1994, p. 12).    
         Conforme Habermas (1994, pp. 46-47), a razão técnica chega a ser uma ideologia, uma dominação metódica, científica, calculada e calculante sobre a natureza e o homem desde que a tecnocultura foi instituída. “A técnica é um projeto histórico social onde os interesses dominantes de uma sociedade são projetados de modo que seja decidido o destino do homem e das coisas”. 

O mito da transcendência e a tecnoreligião

            A técnica, definida como o conhecimento operacional, foi em tempos primitivos associada à magia. A razão científica surge em oposição às técnicas da magia e do mítico, encarando o mito e a imaginação como produtos da irracionalidade. Atualmente, contradizendo os preceitos da Revolução Científica do século XVII, o misterioso, o mítico e o imaginário integram novamente os discursos sobre ciência e tecnologia. No ocidente antigo, ainda relacionada à magia, a técnica não era material e sim simbólica. Os filósofos a definiam como meio de todas as atividades humanas, “uma forma de relação consciente com o mundo, em que se conectam dialeticamente o saber acumulado e ação progressiva”. Durante este período, as técnicas que permitiam a vida contemplativa possuíam um maior grau na estrutura hierárquica que as classificavam. Durante o Renascimento, a técnica era equivalente ao mítico, estava ligada aos rituais religiosos do cristianismo e tinha como objetivo a transcendência. Chegada a Modernidade, a técnica passou a ser identificada com a máquina assim como o próprio corpo humano. Neste período são apontados três estágios do expansionismo tecnológico: o primeiro, o emprego das máquinas como instrumentos para a exploração dos recursos naturais durante a primeira Revolução Industrial; o segundo, com o emprego da eletricidade e sistemas fabris que dispensavam o trabalho manual; e o terceiro, recentemente, a partir da criação de sistemas autônomos e/ou capazes de dominar o próprio homem. O fetichismo tecnológico decorre das mudanças que a subjetividade humana sofre em virtude do tecnicismo que guarda a técnica como propulsora da história da humanidade. Decorre também da tecnocultura, que tem como concepção de mundo uma estrutura conforme o modo da engenharia, onde se pretende dominar a natureza tecnicamente (RUDIGER, 2007, p. 51).
            Os impulsos tecnológicos contemporâneos creem na onipotência da tecnociência, instaurando práticas bem próximas de uma cultura espiritual (SFEZ, 1994, p. 245). Na era digital, o imaginário mítico aproxima o hermetismo, a gnose e a cibercultura. Cientistas e scholars em obras que vão da crítica literária à física, passando pela filosofia e pela biologia, sugerem uma nova forma de “religião universal”, expressando um desejo de divinação do ente que se forma nas relações ciberespaciais. A consciência coletiva reinvidica o pós-humano, a transcendência (FELINTO, 2006, p.116; LEMOS, 1996). A tecnologia parece “(re)colocar” o homem em situações próximas das utilizadas nas sociedades tribais, étnicas e religiosas em seus rituais. O seu comportamento em um ritual sagrado ou em uma interação com a tecnologia são equivalentes, objetivando a soma de conhecimentos e emoções, como uma tentativa de escapar da encarnação física, uma busca inerente ao próprio homem (MEISTER, 2008, p. 10).  
            Apesar de sua racionalidade, a tecnologia possui as mesmas raízes que o mágico e o mítico. Criando uma alternativa artificial mais acabada do ideal a ser alcançado,  através de um caminho ou de outro, o homem espera conhecer a natureza através do seu domínio.    (FELINTO, 2005, p. 41).
             Em seu Manifesto Pós-Humanista publicado nos anos 60, Haraway insere o termo “ciborgue” no campo das ciências humanas, e expõe que este, também definido como “pós-humano”, está inteiramente aberto a idéias de paranormalidade, imaterialidade, sobrenatural e oculto. O pós-humano não aceita que a fé em métodos científicos seja superior a fé em outros sistemas de crença. O ciborgue/ pós-humano é uma figura histórica, ao mesmo tempo real e imaginária, mítica e tecnológica (RUDIGER, 2007, p.74).


               A tendência pós-orgânica da cibercultura

                        A cibercultura baseia-se no pensamento cibernético, onde o ser humano é concebido como um arranjo de informações genéticas. A visão orgânica e não tecnológica do homem que provém da Antiguidade Clássica, do Renascimento e do Iluminismo, é ultrapassada na tecnocultura contemporânea, diante da conexão direta do ser humano com as suas expressões tecnológicas (RUDIGER, 2004, pp. 71-72).  
              Na Modernidade, a técnica passou a ser identificada com a máquina assim como o próprio corpo humano, devido os contrastes mecânicos que existem entre as sensações.  Surgiram teorias de que o mundo pode vir a se tornar totalmente artificial (Ibid, pp. 49-50). Na cibercultura, com apoio nas teorias cibernéticas de Wiener, espera-se reduzir todos os sistemas de informação em bits. Esta ciência é descrita como:  
 [...] um campo mais vasto que inclui não apenas o estudo da linguagem, mas também o estudo das mensagens como meio de dirigir a maquinaria e a sociedade, o desenvolvimento de computadores e outros autômatos [...], certas reflexões acerca da psicologia e do sistema nervoso, e uma nova teoria conjetural do método científico (WIENER, [1950], 1984 apud KIM, 2004, p. 02).
            A inteligência artificial, concebida nos primórdios da cibernética “estrutura-se em sistemas complexos dotados de memórias similares a dos humanos.” (Coletivo NTC, 1996, p. 260). Por este projeto trabalham cientistas de áreas de conhecimento como a lingüística, a psicologia, a filosofia e a ciência da computação. A intenção é criar máquinas autônomas (TEIXEIRA, 1990, p. 10).         
            A interface que se estabelece entre os usuários de computador e a máquina é definida por Sfez (1994, p. 246) como “tecnologia do self”, no qual um segundo eu/self  constrói a sua identidade  a partir da máquina.  
            De modo geral, na interface entre o homem e a máquina:

O corpo sai de cena, então, para dar lugar a fantasias que prometem por um lado, uma expansão infinita de poderes da consciência e, por outro lado, a possibilidade de (re) construir os próprios padrões de consciência na forma de identidades alternativas (FELINTO, 2005, p.65).  
         
            O termo “ciborgue”, inventado em 1960 pelo biomédico Manfred Clynes, foi definido como: a engenharia da união entre sistemas orgânicos separados com a finalidade de aperfeiçoar as capacidades do ser humano e adaptar seu corpo para habitar condições inóspitas. As suas definições mais recentes incluem todo tipo de intervenção tecnológica, seja através do uso de medicamentos, através da conexão com instrumentos de mecânica ou informática. Qualquer que seja esta interface, o objetivo não se reduz apenas ao aperfeiçoamento biológico, visa, todavia, aprimorar as capacidades da mente. Nas definições de pós-humano os desejos de superação são ainda mais radicais. Este é caracterizado como um passo evolutivo da espécie humana, não apenas um estágio posterior, mas principalmente superior. Em meados do século XX, a biologia se baseou em estudos da cibernética para descrever o ser vivo como o resultado de uma organização ordenada em níveis de arquitetura integrada que interagem entre si. Considera que em níveis elementares da matéria, a vida é composta de elementos inorgânicos, não havendo diferença entre organismos biológicos e a matéria inorgânica. A partir de reações enzimáticas, as substâncias inorgânicas compõem moléculas específicas, constituindo células integradas sucessivamente. Assim, é formado um ser vivo completo, através de um conjunto de informações organizadas como um programa cifrado nos códigos do DNA. Nesta perspectiva, cada ser vivo também é considerado um sistema que processa informações e executa programas, troca mensagens na forma de interações bioquímicas que formarão uma rede de comunicação (RÉGIS, 2007, pp. 03-13). 
            O ciborgue não se confunde com a figura do robô, do andróide e nem se trata de uma espécie de inteligência artificial. O robô é constituído somente por partes mecânicas, sintéticas e não-orgânicas. O andróide, embora possua a mesma aparência de um ser humano em sua superfície exterior, é puramente uma máquina assim como o robô, pois não possui em sua constituição a mescla de metal com qualquer tipo de tecido humano. O pós-humano é na verdade uma espécie híbrida, um ente provido de elementos artificiais que lhe conferem possibilidades, propriedades e qualidades maquínicas ou informáticas que se sobrepõem ao sentido original de ser humano. O que o diferencia dos robôs, andróides e sistemas de inteligência artificial, é o fato de que obrigatoriamente possui externamente ou internamente tecido humano (PETRY, 2007).            
                             Este ser pós-orgânico pode ser classificado como protético, interpretativo ou netciborgue. Como protéticos incluem-se os indivíduos cujo funcionamento fisiológico depende de aparelhos eletrônicos ou mecânicos. Como interpretativo, aquele que se constitui pela influência dos mass media ao ser coagido pelo poder das tecnologias do imaginário. Já o netciborgue, equivale ao ciborgue interpretativo das redes de computadores, aquele que navega no ciberespaço (LEMOS, 1997, pp. 13-16).
                            Conforme Lemos (2004, pp. 164-165), o devir ciborgue é justificado pela teoria de que a artificialidade está presente desde a primeira formação do homem e das sociedades primitivas. A capacidade técnica pode ser colocada como estrutura da própria humanidade, “pois o homem primitivo, que de uma pedra faz uma arma e um instrumento, é o antigo ancestral dos ciborgues”. A técnica é um “aspecto essencial da natureza humana”, estrutura a evolução, a linguagem e a consciência, considerando a comunicação através de gestos e a elaboração de utensílios a sua forma mais simples (CAPRA, 2002, p. 64).
                           A essência humana é constituída basicamente por três atributos: a linguagem, a técnica e a religião. Os objetos que concentram em si estes três atributos, chamados de “objetos antropológicos” são capazes de acelerar o processo de hominização, ainda inacabado. A conexão generalizada, que ocorre no espaço cibernético, reúne técnica, linguagem e religião, absorve outros objetos antropológicos, como a escrita e a arte, e os transporta para uma nova dimensão: a da inteligência coletiva em tempo real. (LÉVY, 1993, pp. 143-147)
            O ciberespaço, onde se dá a sociabilidade on-line, é um espaço imaterial tecnologicamente construído na camada eletromagnética do planeta e se pressupõe por computadores conectados por modens e fibras óticas. Um espaço-velocidade virtual, não pode ser comprovado empiricamente, embora seja real. O simulacro imagético, textual ou vocal é definido como um ”vestígio” do outro, espectro efeito de suas manifestações interativas na tela do computador. O destinatário dos investimentos humanos se apresenta fragmentado na sociabilidade ciberespacial, pois a relação de troca envolve ao mesmo tempo o indivíduo que interage, a máquina e o outro na rede. Nesta nova forma de sociabilidade a presença física não é decisiva. O indivíduo que interage acumula as funções de espectador, receptor, emissor e agente. A situação interativa que se instaura leva a máquina a não ser encarada pelo homem como um objeto exterior, uma vez que o próprio homem não se encara como ente fora do campo da máquina. Esta situação passa ser uma condição para a sua manifestação neste novo espaço (Coletivo NTC 1996, pp. 99- 101).
              A conexão virtual significa um rito de passagem da modernidade para a pós-modernidade, a passagem do individualismo ao tribalismo digital com participação do fluxo de informações do mundo contemporâneo, obrigatório para os novos cidadãos da cibercultura. A transmutação que ocorre na interface entre o homem e as novas tecnologias também ocorre na forma inversa, conferindo características orgânicas ao ciberespaço. Formado pelo conjunto de cérebros humanos conectados em rede aos computadores, é como  uma entidade “quase biológica” (LEMOS, 1996).  
            Através das novas tecnologias no contexto globalizado, o homem utiliza como força produtiva direta a sua capacidade no processamento de símbolos, característica biológica singular da espécie (CASTELLS, 1999, pp.100-101). As redes de comunicação da sociedade geram significados que são corporificados através da produção de bens simbólicos, que pautam o comportamento de uma determinada época. O comportamento é determinado por mudanças advindas do desenvolvimento orgânico e da evolução da espécie. Superado o raciocínio cartesiano, um processo evolutivo inclui a biologia, ligada à estrutura orgânica, e a cultura, ligada ao imaginário.  Parte da estrutura humana, a tecnologia define o seu comportamento, logo a sua História. A história da tecnologia, ainda mais antiga que a da ciência, confunde-se com a história da evolução humana, bem como caracteriza períodos da civilização: Idade da Pedra, Idade do Bronze, Idade do Ferro, Era Industrial e a Era da Informática (CAPRA, 2002, pp. 95-96).
             Desta forma, a técnica, vista ora como “vontade de poder” e ora como “vontade de potência”, engendra novos mitos e modifica o cenário de cada época através da produção humana. Como “vontade de poder” reflete os sintomas da impotência do homem diante do seu próprio destino; e como “vontade de potência” relaciona seu dispositivo simbólico de poder como “símbolo fálico, castrado ou reinvestido da razão” (SILVA, 2006, pp. 32-33).  
  

A sociedade em rede

             A sociedade pode ser explicada como parte da totalidade da vida social do homem sobre a qual as suas manifestações concretas como hereditariedade e fatores inatos influenciam tanto quanto os conhecimentos e técnicas científicas, religiões, sistemas éticos, sistemas metafísicos, e as formas de expressões artísticas proporcionadas pelo meio.  O curso da História indica que a dinâmica da sociedade tende a aumentar cada vez mais em virtude do aumento progressivo dos agregados sociais, da interação da sociedade com seus elementos componentes, da socialização entre sociedades vizinhas e da acumulação de instrumentos materiais, da língua, do saber e da arte, aumentando assim a rede da “grande” bacia semântica que formula o homem (ADORNO & HORKHEIMER, 1973, pp. 25-44).
              O imaginário coletivo pode se manifestar de duas formas: macroscópica ou microscópica. Em sua forma macroscópica mobiliza as massas ao se expressar em valores transcendentes e monovalentes como Deus, o Estado, o Progresso e a Ciência. Em sua forma microscópica se cristaliza ao influenciar os diferentes grupos sociais que encontram o seu sentido na interatividade (Coletivo NTC, 1996, pp. 99-101).  
            O surgimento desta nova estrutura social se manifesta conforme a diversidade de culturas e instituições de todo o planeta. O seu desenvolvimento está organizado em processos estruturados por relações historicamente determinadas nos pilares da produção, da experiência e do poder. A produção, ação da humanidade sobre a natureza para dela se apropriar e transformá-la em seu benefício, focaliza a obtenção de um produto a ser consumido e acumulado para o investimento de acordo com valores determinados entre a sociedade a partir de sua posição no processo produtivo. Se organiza em relações de classes que decidem a divisão e o emprego do produto em relação ao cosumo e investimento. A experiência, outro pilar da estrutura das relações sociais, é definida como a ação do sujeito sobre si mesmo. É moldada pela interação entre identidades biológicas e culturais relacionadas a ambientes sociais e naturais, objetivada na satisfação de necessidades e desejos. O poder corresponde ao pilar da relação entre os sujeitos. Baseado na produção e na experiência, gera instituições sociais que irão impor através de coação física ou simbólica o cumprimento das relações de poder existentes em um dado momento histórico.  A comunicação simbólica entre os humanos e o seu relacionamento com a natureza estruturados nestes pilares geram cultura e identidades coletivas, cristalizando-se ao longo da História (CASTELLS, 1999, pp. 32-33).    
            Apresentando variação conforme a sua história, cultura, localização, instituição e globalização, a rede social que emerge deste processo de transformação tecnológica é capitalista e informacional. O desenvolvimento e manifestações desta revolução foram moldados pelas lógicas e interesses do capitalismo avançado, fruto de uma reestruturação econômica ocorrida na década de 80, e que se torna cada vez mais veloz no século XXI. Pelo informacionalismo, modelo de desenvolvimento adotado neste contexto histórico, as tecnologias do imaginário integram o mundo em redes globais de instrumentalidade. A comunicação mediada gera toda diversidade de comunidades e manifestações virtuais. Estas ações têm como característica a construção de ações sociais e de políticas afirmativas em torno de identidades enraizadas na história e geografia, ou recém construídas. São definidas como “identidades primárias, buscam significados, espiritualidade, e a construção de relações sociais baseadas em atributos culturais que lhe conferem identidade, processo pelo qual o ator social se reconhece e constrói o seu imaginário. A produção tecnológica do informacionalismo tem como função o desenvolvimento de tecnologias, a acumulação  de conhecimentos e níveis elevados de processamento de dados informacionais (Ibid, p. 31).  
             
Conclusão

            A sociedade pós-moderna se conecta à matéria inorgânica experimentando a complexidade e a contradição de não possuir identidade fixa. A produção e a representação da cultura hipermediada na sociedade on-line pelas tecnologias digitais modificam as percepções e criam uma ideologia tecnodependente. O pós-humano é resultado de uma revolução cognitiva e biológica que vincula a artificialidade ao modo de ser e estar no mundo, pelo desejo de transcender as referências econômicas, sociais, culturais, espaciais, temporais, corpóreas, subjetivas, e outras que separem a “criatura” do divino.    
            A alteridade humana “informaticamente determinada” navega no fluxo de informações através de uma interface. A sua alfabetização digital lhe proporcionará o discernimento entre a revelação e o excesso.  As preocupações vão além de garantir que todos possam consumir os novos produtos, elas passam pela necessidade de que os usuários possam estar familiarizados com as potências das máquinas de forma que o seu uso esteja relacionado com concepções que realizem a democracia e a sustentabilidade.
            As tecnologias não podem ser consideradas como neutras aos processos da estrutura humana, assim como também não colocam necessariamente em risco o seu futuro, ou o liberta totalmente das suas limitações. Elas surgem e se desenvolvem em interação com as respostas do corpo humano aos estímulos oriundos do ambiente, reforçam e projetam as faculdades do homem como uma extensão que o modela. As atividades técnicas participam do processo de autocriação do homem e podem ser transcendentais, a depender da maneira como o ente age e se organiza socialmente ao longo da História, devendo ser observado o seu emprego e a sua relação com os diferentes aspectos da vida em sociedade.


Referências bibliográficas:

ADORNO, Theodor W; HORKHEIMER, MAX. Temas básicos da sociologia. (cap. II: “Sociedade”). São Paulo: Editora Cultrix, 1973, pp. 25-44. In: FORACCHI, Marialice Mencarini; MARTINS, José de Souza. [1977] Sociologia e Sociedade: Leituras de introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A, 1998, pp. 263-275.

CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Cultrix. Título do original: The Hidden Connections.

CASTELLS, Manuel.  A sociedade em rede. Tradução: Roseneide Venâncio Majer.  São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 31. Título original:The rise of the network society.

Coletivo NTC. Pensar Pulsar: cultura comunicacional, tecnologias, velocidade. São Paulo: Edições NTC, 1996.

FELINTO, Erick. A religião das máquinas: ensaio sobre o imaginário da cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2005.

__________________. A tecnoreligião e o sujeito pneumático no imaginário da cibercultura. ALCEU, v.6, n.12, jan. - jun. 2006, p. 115 a 125. Disponível em: http://publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/alceu_n12_Felinto.pdf. Acesso em 20 jun. 2010.

HABERMAS, Jurgen. [1968] Técnica e Ciência como ideologia. Lisboa: Edições 70, 1994

KIM, Joon Ho. Cibernética, ciborgues e ciberespaço: notas sobre as origens a cibernética e sua reinvenção cultural. Net. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre: vol.1, no. 21,  jan. – jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S0104-71832004000100009&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em 20  jun. 2010. 

LEMOS, André. Bodynet e netcyborgs: sociabilidade e novas tecnologias na cultura comtemporânea. Net. Usinos, 1997. Disponível em: <http://66.102.1.104/scholar?hl=pt-BR&lr=&q=cache:Yzm_s702TIQJ:www.comunica.unisinos.br/tics/textos/1997/1997_al.pdf+cyborg+prot%C3%A9tico+e+interpretativo>. Acesso em 13 de out. 2008.

______________________. Estruturas Antropológicas do Ciberespaço. In: Textos de Cultura e Comunicação, n. 35, Facom/UFBA, Julho 1996. Disponível em < http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/lemos/estrcy1.html >.  Acesso em 19 jun. 2010.

 ____________________. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina. 2ª ed. 2004.

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[1]  
[2] Graduada em Comunicação Social – Rádio e TV pela Universidade Estadual de Santa Cruz ( UESC-BA, e-mail: camilla_ramos81@hotmail.com.